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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Culinária dos Tempos dos Cafezais I

Que tal desfrutar do prazer de se hospedar numa fazenda dos tempos do cafezais e, ainda por cima, poder apreciar uma boa comida? Em Rio das Flores, município brasileiro do estado do Rio de Janeiro, fazer as duas coisas ao mesmo tempo é possível em pelo menos duas das dez fazendas históricas localizadas no município. Fazenda União e Fazenda Campos Elíseos.

Rio das Flores
A região começou ser colonizada intensamente a partir do ciclo café. Em 1851, construiu-se uma capela dedicada a Santa Teresa, instituíndo a Freguesia de Santa Teresa de Valença, então distrito de Marquês de Valença.

A região começou a enriquecer muito com as lavouras de café, ao ponto de em 1882 ser inaugurada a estação da Estrada de Ferro Rio das Flores, e em 1890, emancipou-se do município de Valença, tornando-se Vila de Santa Teresa.

Devido à Lei Áurea e à crise econômica do primeiro ciclo cafeicultor, a cidade foi entrando em declínio, sofrendo acentuado êxodo e gradual câmbio do foco produtor para o setor pastoril. Em 1929, a vila foi elevada à condição de cidade, e em 1943 passou a se chamar cidade de Rio das Flores.

Atualmente tem sua economia baseada na agropecuária e no turismo.

Fazenda União
Sede da Fazenda União

Primeiro vamos conhecer a Fazenda União, de 1836, que pertenceu ao Visconde de Ouro Preto. Hoje os barões são outros: o casal João e Rosalina Monteiro dos Reis. Ele, arquiteto, conhecedor e apaixonado pela história do Ciclo do Café. Ela, bióloga e pesquisadora da culinária que se fazia na região no século XIX.

Requinte e bom gosto: marcas da Fazenda União

Em 1991 eles compraram a União, restauraram, recolheram móveis e objetos do tempo do café e hoje têm, ao mesmo tempo, um verdadeiro museu e “uma casa de fazenda que recebe hóspedes”, como prefere definir João. Com dez quartos, a União é muito agradável e bem cuidada. Fazer um tour com o proprietário pelo interior da sede da fazenda é uma aula de história.

A Fazenda União trabalha com o TURISMO HISTÓRICO, a casa está montada para que se possa contar a História do Café no Vale do Paraíba, possui 10 suites decoradas com mobiliário da época e agenda visitas a outras fazendas da região.

Antiga senzala

Santos Dumont
Já Rosalina vê a história por meio da gastronomia, fazendo refeições com receitas resgatadas dos tempos do café e até de Santos Dumont. Sim, o pai da viação vira-e-mexe passava pela cidade. Afinal, para quem não sabe, os pais de Santos Dumont moraram na Fazenda do Casal, dos seus avós maternos. Foi em Rio das Flores, na Igreja de Santa Teresa D’Ávila, que ele foi batizado.

Pergunte à Rosalina a história de como conseguiu estas receitas com um sobrinho-neto de Santos Dumont, Jorge Henrique Dumont Dodsworth. Receitas que, segundo Jorge, o tio adorava, como a farofa de frutas cristalizadas e o suflê de goiabada ou de geléia de goiaba.



Culinária dos tempos do café
Da época da culinária escrava dos tempos do café, a fazenda oferece o pastel de angu (massa de fubá com polvilho e ovos; recheio de carne-seca) e o funduntum, feito com canjiquinha (milho moído em moinho de pedra) e recheado com carne de porco (frango) refogada, com agrião.

No mais, a base é a culinária mineira mesmo e explica-se: muitos dos barões do café vieram de Minas. O carro-chefe é um tal pernil de porco, com batatas caramelizadas (com açúcar mascavo e especiarias) ao forno e farofa. O pernil fica marinando num tempero feito com louro, suco de limão, especiarias, alho e pimenta-do-reino durante dois dias, antes de ir para o forno a lenha onde fica durante várias horas, assando lentamente.

Rosalina (sentada) e o seu pernil de porco

Mas o variado cardápio tem mais: carne-seca; frango cozido com mel, alecrim e mostarda; frango ao vinho (temperado no vinho, grelhado na manteiga e azeite; depois, forno com creme de leite fresco), bacalhau (trazido pelos portugueses, era muito consumido no Brasil colonial); paçoca de carne (feita com farinha de milho); tilápia grelhada com purê de banana ou aspargos ou palmito natural; abobrinha recheada com melado, nata de queijo-de-minas, farinha de rosca e queijo; bolinho de arroz; pato; licores; cachaça; doce de laranja cristalizada, que demora uma semana para fazer, como antigamente.

Bolinho de arroz

Hospedar-se na União é participar de um festival gastronômico por dia. “Costumo pesquisar o perfil do hóspede para fazer um prato, pois tem gente, por exemplo, que não come carne de porco”, diz Rosalina. Por falar em pesquisa, ela tem um cardápio todo especial com café: um delicioso pudim de café, bolo, musse, um molho especial para acompanhar doces e um especial licor de café, “muito consumido no tempo do ciclo do café”, informa.

Pudim de café

Café da manhã
Vamos fechar o nosso cardápio com o café-da-manhã. Para começar, a maior parte dos pães é feita na fazenda, como também a fantástica broa de milho, o pão de queijo, o queijo, as geléias. Como também é da fazenda o leite, o mel (o apiário fica dentro da mata) e a divina manteiga. A fazenda produz várias outras coisas, como aves, porco, verduras e hortaliças orgânicas. O que não produz, Rosalina consegue nas fazendas vizinhas, principalmente nas fazendas da família, como uma cachaça de alambique que vem da fazenda de um dos irmãos. Rosalina procura trabalhar sempre com produtos regionais e naturais.

Geléias,pães e broa de milho. Tudo da fazenda

A União fica a cerca de cinco quilômetros do Centro da cidade. Para chegar até lá, pega-se a Estrada do Abarracamento, uma via alternativa que liga Rio das Flores a Vassouras e Paraíba do Sul. A partir da saída da cidade, são dois quilômetros no asfalto e mais um em estrada de terra, até a entrada da fazenda.


Fonte: Viagem e Sabor

Veja mais fotos aqui.

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