É o que mostram as últimas pesquisas sobre o café. Mas o limite é quatro xícaras por dia
Anna Paula Buchalla
Descoberta em 1820 pelo químico alemão Ferdinand Runge (em resposta a um desafio feito a ele pelo poeta Wolfgang von Goethe), a cafeína é apenas uma entre as cerca de 1 000 substâncias que compõem o café. Como se trata de um estimulante poderoso, ela monopolizou a atenção dos estudiosos da bebida durante mais de um século e meio. Esse quadro mudou.
Hoje, centenas de médicos e cientistas dedicam-se ao trabalho de analisar um a um todos os elementos contidos no café. Os achados têm se revelado fascinantes. Já se concluiu que a bebida tem substâncias antioxidantes bastante potentes, como os sais minerais, a niacina (uma vitamina do complexo B) e os ácidos clorogênicos. Tais compostos, que ajudam a combater o envelhecimento das células, explicam os efeitos protetores do café contra os mais diversos males – do diabetes tipo 2 à cirrose.
A quantidade de antioxidantes existente num cafezinho supera a encontrada em outros alimentos considerados grandes fontes dessas substâncias, como maçã, banana, vinho tinto, abacate e chá verde. Isso mesmo: o café tem quase o dobro de antioxidantes do que o festejado chá verde.
Como o café é consumido em larga escala, ele se tornou para muita gente a principal fonte de antioxidantes. Essas substâncias têm sido entronizadas na medicina preventiva como os compostos naturais mais eficientes para diminuir o ritmo de progressão de doenças e evitar outras.
Um estudo coordenado pelo químico Joe Vinson, da Universidade de Scranton, na Pensilvânia, mostra que mesmo nos ricos Estados Unidos o café é a principal fonte de antioxidantes na dieta de um americano adulto. Ele contribui, em média, com 1.299 miligramas de antioxidantes por dia, quantidade mais do que suficiente para retardar o aparecimento de algumas doenças associadas ao envelhecimento. Disse Vinson a VEJA: "O café tem mesmo um papel preponderante na manutenção da saúde. Seus efeitos antioxidantes são comparáveis aos das vitaminas C e E e do betacaroteno".
Em outro estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Harvard, o consumo regular de café mostrou ser capaz de prevenir a maioria dos casos de uma séria doença metabólica, o diabetes tipo 2. Os pesquisadores de Harvard cruzaram dados de nove trabalhos científicos, envolvendo 200.000 pessoas. A conclusão foi chancelada recentemente por cientistas da Universidade da Califórnia.
Em um artigo publicado na revista especializada Diabetes Care, os cientistas atribuíram a redução em 60% da incidência de diabetes tipo 2 ao consumo diário de café – uma marca tão extraordinária que nenhum medicamento pode reivindicar. Outras pesquisas e testes serão necessários antes de os médicos começarem a receitar café a pacientes propensos a desenvolver a doença metabólica.
Ainda não se sabe sequer de que forma a bebida é capaz de prevenir o diabetes. O cardiologista Luiz Antonio Machado César, coordenador do grupo de estudos sobre o café e o coração, do Incor de São Paulo, adianta uma hipótese: "A cafeína talvez seja capaz de tornar as células mais sensíveis à ação da insulina".
É provável também que o benfeitor da saúde dos potenciais diabéticos deva ser procurado em outros componentes do café. Nesse caso, os ácidos clorogênicos da bebida, cuja ação antioxidante é bastante conhecida, ajudariam a reduzir as taxas de açúcar no sangue. As respostas a essa e a outras questões relativas ao café brotarão dos laboratórios nos próximos anos.
As dúvidas geradas pelas pesquisas são muitas. Às vezes elas carregam até uma pitada de orgulho nacional. Os americanos em sua maioria tomam café ralo. Pois não é que os cientistas americanos que viram propriedades anticirróticas no consumo da bebida dizem que o fígado agradece uma xícara de café – mas ele tem de ser bem ralinho.
A nutricionista italiana Chiara Trombetti diz o contrário. Para fazer bem, o café tem de ser bastante forte – como os italianos gostam. Ela diz que o café forte ajuda até a emagrecer, já que a cafeína tem o poder de acelerar o metabolismo, processo que estimula a queima de gordura. Do ponto de vista da química do sangue, o café ainda não é uma unanimidade positiva.
O processo de torrefação consegue eliminar quase todas as gorduras e os açúcares contidos no grão. O coador de papel cuida de filtrar ainda mais os lipídios e os resíduos sólidos potencialmente danosos para a saúde. Mas isso nem sempre é feito à perfeição. Teoricamente, os cafés fortes têm mais probabilidade de conter gorduras em quantidades indesejáveis. Esse senão é quase desprezível diante de tantas evidências positivas.
Algumas pesquisas já associaram o consumo regular da bebida a uma incidência menor de depressão, suicídio e alcoolismo. São tantos os benefícios oferecidos pelo café que um artigo publicado no British Journal of Nutrition perguntava, no ano passado, se ele deveria ser considerado oficialmente um alimento funcional, com o poder de prevenir e até tratar as mais diversas doenças.
Evidentemente, não é o caso de beber café como se bebe água. Inclusive porque a cafeína é um estimulante que causa dependência moderada. É consenso entre os especialistas que o consumo da bebida não deve ultrapassar quatro xícaras diárias – o equivalente a 600 mililitros. No caso das crianças, o café misturado ao leite é a forma mais aconselhável.
Um conselho aos que tomam café para se manter alertas: os estudos mais recentes sugerem que os melhores resultados são obtidos se as doses forem divididas ao longo do dia. Por exemplo, alguém que toma meio litro da bebida na parte da manhã deveria dividir essa quantidade em duas ou três vezes no decorrer do dia.
A qualidade da água é vital no processo. Para se ter uma idéia, o café expresso, o menos diluído, é composto de 98% de água. Como vovó dizia, não se deve ferver a água durante o preparo. O ponto ideal de aquecimento é o da pré-fervura, condição em que a bebida preserva seus nutrientes, entre os quais os antioxidantes.
Fonte: Veja
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