Como aconteceu em todos os países onde chegou, o café, apesar de seu gosto amargo (o açúcar só entraria depois nessa história), o café conquistou o paladar dos franceses. Em 1669, o "vinho do Islã", como então era chamado o café, foi apresentado pelo embaixador da Turquia ao rei Luis XIV que se apaixonou pela bebida a ponto de prepará-la pessoalmente, mesmo para seus convidados. Sendo tão importante para o soberano, o café virou moda na corte.
Chapéu de Napoleão: de Garantia a Relíquia
Foi nesse cenário, em 1686, num dos mais agitados pontos do Faubourg Saint Germain, a Rue des Fossés Saint-Germain (atual l'Ancienne Comédie), lugar de bons albergues e lojas de luxo, que o italiano Francesco Procopio dei Coltelli inaugurou, com toda pompa e circunstância, o legendário Café Le Procope - estabelecimento que entrou para a História como primeiro café literário e primeira sorveteria da França e, também, por ter sido o reduto dos mais importantes personagens da intelectualidade, política e arte francesas. Até hoje no mesmo endereço, é um dos programas imperdíveis da Cidade Luz.
O Le Procope, primeiro café de Paris, existe até hoje, situado na rue de l’Ancienne Comédie, quase na esquina do Boulevard Saint Germain e da praça Odeon, recebeu em sua mesa grandes nomes como Napoleão Bonaparte. Dizem as histórias de "mesa de café" que se Napoleão estivesse sem dinheiro ao entrar no Café ele deixava seu chapéu como garantia ao sair, para que em próxima oportunidade pagasse a conta em "resgate" de seu chapéu.
Um exemplar decora a casa até hoje, exposto numa vitrine, supõem-se que, pelo menos uma vez, o futuro Imperador não tenha resgatado a dívida. Mais tarde, Balzac, Victor Hugo, Verlaine, George Sand, Anatole France, e tantos outros se juntaram à lista das celebridades que frequentaram o Le Procope, que ainda hoje, atrai turistas do mundo inteiro.
Restaurante Le Procope em Paris
Fundado em 1686 pelo italiano, Francesco Procópio, Monsieur Procope, como passou a ser chamado em Paris, um homem empreendedor com uma excelente visão comercial e muitos talentos. Siciliano, provavelmente de Acitrezza, uma aldeia de pescadores na região da Catânia, ele chegara à cidade, em 1660, e amealhara dinheiro como vendedor autônomo de café em grãos, experiência que lhe conferiu um considerável conhecimento sobre o produto. Por outro lado, trouxera de sua terra natal um invento que herdara de seu avô, um pescador que nas horas vagas se dedicava às invenções, determinado a melhorar o sorvete que se fazia até então.
Procope aperfeiçoou o invento do avô e inovou nas receitas, substituindo o mel pelo açúcar. Tanto fez, que conseguiu homogeneizar os ingredientes, gerando um sorvete muito similar ao que conhecemos hoje. Diz-se que, apesar de perito em café e sorvete, a sua grande arte estava, mesmo, era em mesclar ervas e especiarias em licores e aguardentes.
O fato é que Monsieur Procope reuniu tudo o que sabia e rapidamente conquistou a clientela com a excelência das bebidas e dos sorvetes (80 sabores) que servia, o charme do lugar e seu serviço refinado e atencioso. A proximidade com a Comédie Française, que se instalara bem em frente ao seu café, em 1689, (ficou ali até 1770), transformou o estabelecimento numa espécie de ante-sala do teatro, garantindo-lhe um excelente movimento. Por mais de 200 anos, todos os que possuíam um nome, ou pretendiam vir a possuir, no mundo das letras, artes e política, freqüentaram o Café Le Procope.
La Fontaine, Molière e Racine eram habitués. Piron, Destouches, d'Alembert, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Diderot e inúmeros outros literatos fizeram do Le Procope uma sucursal da Académie Française - pode-se dizer que a Enciclopédia nasceu sob os seus lustres de cristal. Foi ali, também, que Benjamin Franklin trabalhou na redação da declaração de independência dos Estados Unidos.
Durante a revolução francesa, o Le Procope foi rebatizado de Café Zoppi e tornou-se o lugar de reunião dos Cordeliers. Era ali que Danton, Hébert, Marat, Desmoulins reuniam os seus partidários e falavam de reformas, de guilhotina, de liberdade. A noite, para demonstrar as suas teorias liberais, os membros do clube queimavam, em frente à porta do estabelecimento, os jornais que tivessem julgado demasiado moderados. As palavras de ordem para os ataques às Tuileries, em 20 de junho e 16 de agosto de 1792, partiram do Le Procope, centro dos acontecimentos do período revolucionário.
Instalado numa antiga casa de banhos turca, cuja arquitetura interna em estilo oriental foi sabiamente preservada e coberta de espelhos e finas tapeçarias, o Café Le Procope esbanjava luxo com seus belos lustres de cristal, suas mesas de mármore e atendimento sofisticado - criados de peruca, avental e luva brancos cruzavam o salão carregando bandejas de prata.
Le Procope, primeiro café de Paris (hoje um restaurante), criado em 1686 no bairro de Odéon, é uma referência em termos de café literário, por cujas mesas passaram nomes como Balzac, Anatole France, Victor Hugo, Paul Verlaine, Oscar Wilde, além dos revolucionários franceses Danton, Marat e Robespierre. Sobre o Procope, Montesquieu escreveu: “existe um lugar onde o café é servido de tal forma que ele confere espírito àqueles que o tomam”.
Símbolo do passado, a mesa de Voltaire, instalada hoje num dos salões do primeiro andar da casa, testemunha da sua perenidade e prepara-se para acolher novas glórias.
Séculos de história fez com que em 1992, o Café Le Procope foi tombado como Monumento Histórico pela prefeitura da cidade.
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