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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Café por Candido Portinari

Candido Portinari (1903 - 1962) importante nome da Arte Moderna no Brasil, dedicou-se à pintura retratista, histórica e crítica, tornando-se um grande acusador da injustiça social. Em quase 5 mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais, Portinari legou ao nosso imaginário uma ampla síntese crítica de todos os aspectos da vida brasileira. Reconhecido tanto no Brasil quanto no exterior, Portinari fixou para sempre a fisionomia da sua terra e do seu povo.

"Vim da terra vermelha e do cafezal.
As almas penadas, os brejos e as matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu auto-retrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo.”
-
Candido Portinari
Portinari com a esposa, Maria, no seu atelier no Rio de Janeiro, 1931

Candido Torquato Portinari (Brodowski, 29 de dezembro de 1903 — Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1962) foi um pintor brasileiro. Portinari pintou quase cinco mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais. Foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.

- Peneirando café, Candido Portinari

Portinari nasceu numa fazenda de café, Santa Rosa, no interior de São Paulo. Filho dos imigrantes italianos Giovan Battista Portinari e Domenica Torquato, que tiveram doze filhos, sendo ele o segundo. De família humilde, cursou apenas o primário, porém desde criança manifestou sua vocação artística. Aos seis anos de idade, Portinari começa a desenhar. Para o menino Candinho, a profissão chegou quase como brincadeira. Primeiro, foi um leão que desenhou na aula. O desenho foi comentado por professores e alunos. Não o deixaram mais em paz: teve que desenhar a capa das provas a serem expostas no final do ano.

Tempos depois, vieram de Ribeirão Preto uns pintores italianos para trabalhar na restauração da igreja de Brodowski. O menino Portinari, com apenas nove anos, os ajudou por vários meses, enchendo o fundo do altar de estrelas. O que mais gostava era de misturar as tintas. Aos dez anos, desenhou o retrato de Carlos Gomes, como via numa caixa de cigarros.

Em 1918 Portinari, também chamado carinhosamente de "Candinho" pela família, viajou para São Paulo, para ingressar no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Com 15 anos foi para o Rio de Janeiro e matriculou-se na Escola Nacional de Belas Artes - ENBA e no Liceu de Artes e Ofícios, onde aprendeu a arte da pintura e desenho figurativo com Rodolfo Amoedo, Batista da Costa, Lucílio de Albuquerque e Carlos Chambelland.

Em 1922, Portinari, quando completou 19 anos, realizou sua primeira exposição na Escola Nacional de Belas Artes conquistando menção honrosa, ganhando medalha de bronze pelo seu trabalho.

Expôs na ENBA de 1922 até 1929. Em 1928 recebeu o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Portinari viajou pela Europa por dois anos. Em 1929 Portinari partiu para a Europa, viajou pela Itália, Inglaterra, Espanha e se fixou em Paris, onde permaneceu até 1930. Ia diariamente aos museus e lá descobriu a pintura moderna. Discutia sobre arte nos Cafés e não tinha quase nenhum tempo para pintar. Foi em Paris que Portinari conheceu Maria Martinelli, com quem se casou.

Portinari estudou em Paris no ano de 1930, onde recebe instrução acadêmica. De espírito inquieto, sua arte procura expressões novas, o que o leva a abandonar os cânones acadêmicos e a aplicar a aprendida ciência do fazer artístico a uma linguagem plástica pessoal e moderna.

Em 1931, regressa ao Brasil e passa a lecionar no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal onde ocupou a cadeira de pintura mural e de cavalete até 1938.

Em 1932, Candido Portinari expôs individualmente. Três anos depois, seu quadro Café recebeu a segunda menção honrosa da Exposição Internacional do Instituto Carnegie, nos Estados Unidos.

Lavrador de Café, Candido Portinari, 1934 - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand


Realiza, em 1936, os painéis do Monumento Rodoviário situado no Eixo Rio de Janeiro - São Paulo (hoje, Via Dutra). Entre 1936 e 1944, realiza os afrescos do edifício do Ministério da Educação e Saúde. Esses trabalhos marcam na carreira de Portinari a definição de seu gosto pela temática social. Sempre ligado a escritores, diplomatas, intelectuais, jornalistas e poetas, em 1939 se integrou à Família Artística Paulista, grupo do qual faziam parte, entre outros, artistas como Alfredo Volpi, Mário Zanini, Fúlvio Pennacchi, todos de origem operária. Portinari é ao mesmo tempo membro da elite intelectual de seu tempo e um legítimo defensor das camadas menos favorecidas do povo.

- Café, Candido Portinari- 1938

No final da década de 30, firma-se a projeção internacional de Portinari. Em novembro de 1939 expôs 269 trabalhos no Museu Nacional de Belas-Artes. Ainda em 1939 realiza três grandes painéis para o pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York. Também em 1939 sua tela “O Morro” é adquirida pelo Museu de Arte Moderna de Nova York. No mesmo ano nasceu seu único filho, João Cândido.

Em 1940, realiza exposição individual no Museu de Arte Moderna de Nova York e no Instituto de Artes de Detroit, sendo aclamado pelo público e pela crítica. Ainda em 1940, participa da mostra de arte latino-americana no Riverside Museum de Nova York.

Em 1941, pinta os painéis na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso da capital Norte Americana. Ainda em 1941, a Universidade de Chicago publica o primeiro livro sobre o pintor, Portinari, “His Life and Art”, com introdução do artista Rockwell Kent e inúmeras reproduções de suas obras.

- Cafezal, Candido Portinari, 1942

Em 1943 retorna ao Brasil e pinta oito painéis conhecidos como “Série Bíblica”. Neles refletem-se a influência da 2ª Guerra Mundial e, especialmente, da obra “Guernica” de Picasso.

Em 1944, inicia as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer. Dentre elas destacam-se o mural “São Francisco” e a “Via Sacra”, na Igreja da Pampulha.

Entre 1944 e 1946 realiza as séries “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”. Tangido por seus ideais sociais, candidata-se, em 1944, a deputado e em 1947 a Senador, pelo Partido Comunista Brasileiro, mas não é eleito.

Em 1946, recebeu a Legião de Honra do governo francês.

Em 1948, Portinari exila-se no Uruguai, por motivos políticos, onde pinta o painel “A Primeira Missa no Brasil”, encomendado pelo banco Boavista do Brasil. Sua produção no exterior será igualmente importante e extensa.

Em 1949 executa o grande “Painel Tiradentes”, onde narra os episódios da prisão, julgamento, execução e esquartejamento do herói brasileiro que lutou pela independência do Brasil e pelo fim da escravidão.

Em 1950, Portinari recebeu por este trabalho, a medalha de ouro concedida pelo Júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia. O Catálogo do Patrimônio Artístico do Estado, orgulhosamente, apresenta essa monumental obra que se encontra hoje no “Salão de Atos Tiradentes” no Memorial da América Latina na cidade de São Paulo.

Ilustrou vários livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O Alienista”, de Machado de Assis. Em 1958, iniciou livro de poemas, editado por José Olympio em 1964, com introduções de Antonio Callado e Manuel Bandeira.

- Colheita de café (Cosecha de café) Candido Portinari, 1958 - Colección Particular, SP

Em 1960 nasceu sua neta Denise, que passou a ocupar boa parte de seu tempo. Pintou muitos quadros com o retrato dela. Quando não estava com Denise, Portinari passava horas fitando o mar, sozinho. No ano seguinte escreveu um ensaio de oração para a neta Denise.

- Colheita de Café - Candido Portinari - 1960 - Acervo BankBoston, Rio de Janeiro/RJ

Em janeiro de 1962 sofreu nova intoxicação por chumbo, que já o atacara em 1954. Adoecido, não mais se recuperou. Nessa época, preparava uma grande exposição, com aproximadamente duzentas obras, a convite da prefeitura de Milão.

Em 6 de fevereiro Portinari morreu, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava, mas cumprindo a promessa de homenagear a sua terra e o seu povo, através da sua arte. "Daqui fiquei vendo melhor a minha terra. Fiquei vendo Brodowski como ela é".

Artista intenso e produtivo, Portinari deixou um legado extenso e profundo com inúmeros painéis e murais, técnica a que particularmente se dedicou. Realizou inúmeras exposições no Brasil e no mundo, entre elas, a exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux-Arts, em Bruxelas na Bélgica, tendo sido o único artista brasileiro a participar nessa mostra; 1ª Bienal Internacional do México, onde recebeu Prêmio Ciudad de México; Arte Moderna no Brasil, no Museo de Arte Contemporâneo em Santiago no Chile; exposição no Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova Iorque, onde recebeu o prêmio Guggenheim; Internacional Fine-Arts Council de Nova York, onde recebeu medalha de ouro como o melhor pintor do ano; Individual no Salón Peuser em Buenos Aires; exposições em Ein Harod, Haifa, Jerusalém e Tel Aviv a convite do governo de Israel.

Seu filho João Candido Portinari hoje cuida dos diretos autorais das obras de Portinari.

Para saber mais sobre a vida e obra deste magnífico artista brasileiro visite os links Centenário Portinari 2003/2004 e Projeto Portinari.

Vale bem a pena. Leia abaixo uma pequena amostra das delícias contidas lá.

Eram belas as manhãs frias na época da apanha do café e delicioso o canto dos carros de boi transportando as sacas da colheita. Quantas vezes adormecíamos sobre as sacas. A luz do sol parecia mais forte. Era somente para nós. Ia pela estrada afora o carro vagaroso, cantando. Dormíamos cheios de felicidades. Sonhávamos sempre, dormindo ou não. Nossa imaginação esvoaçava pelo firmamento (…). À noite, deitávamos na grama ao redor da igreja e de barriga para cima ficávamos vendo as estrelas e sonhando; um perguntava ao outro o que desejava ser – as respostas eram ambiciosas: um desejava ser rei, outro general, aquele dono de circo.
Candido Portinari

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