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domingo, 31 de outubro de 2010

Pegada Climática do Café

A pegada de carbono de uma xícara de café
As pegadas reais oferecem detalhes sobre o tamanho, peso e velocidade, ao passo que as pegadas de carbono medem quanto dióxido de carbono (CO2) nós produzimos avaliando o impacto que nosso consumo tem sobre o ambiente; por meio da estimativa de emissões de gases de efeito estufa associada às nossas atividades cotidianas e que alguns denominam como pegada de carbono. A utilização de selos em produtos informando quanto foi emitido de dióxido de carbono (CO2) na sua produção – conhecida como pegada de carbono – já é adotada por diversos fabricantes europeus.

Por Christoph Trusen e Lia Krucken*

Saber a emissão de gases de efeito estufa dos produtos será cada vez mais útil para empresa e consumidores. A sustentabilidade ambiental é um princípio crucial para a competitividade das empresas. Está relacionada ao custo de produção (eficiência energética e uso de recursos ambientais) e à atratividade que a empresa tem no mercado, tanto sob o ponto de vista dos consumidores como dos investidores.

O painel intergovernamental sobre mudanças climáticas das Nações Unidas estabeleceu como objetivo a redução das emissões até 2050 em mais de 50% em relação ao ano de 1990. Para os países industrializados, essa redução deve chegar a 80%. Isso significa a criação de metas obrigatórias para os Estados e, portanto, os governos são impulsionados a converter o tratado internacional em leis aplicáveis aos diversos territórios e setores industriais.

Os consumidores também têm exigido das empresas uma postura mais responsável, buscando produtos com perfil mais sustentável, se informando sobre matérias-primas, processos produtivos, consumo energéticos dos produtos e a reputação das empresas. Na Alemanha, por exemplo, não menos de 70% dos consumidores desejam hoje um selo climático para os produtos. Um terço da população estaria disposto a contribuir pessoalmente através do consumo com a proteção do clima.

Cientes do interesse dos consumidores, fornecedores e indústrias também podem concentrar esforços em desenvolver processos menos impactantes ao clima. Grandes empresas como a Walmart neste contexto, estão exigindo cada vez mais que seus fornecedores adotem atitudes sustentáveis em seus processos. Da mesma forma, o investidor pode impulsionar negócios favoráreis do ponto de vista ambiental. Os princípios de investimento responsável (Principles for Responsible Investment, da United Nations Environment Programme - UNEP) estão se tornando referência para investidores escolherem as empresas nas quais irão colocar seu dinheiro. Neste sentido, o desenvolvimento de ações para reduzir o impacto climático ajuda a garantir a atratividade de negócios.

Uma das estratégias mais inovadoras para criar produtos mais "verdes" é mensurar e avaliar a pegada de carbono ou pegada climática de produtos “Product Carbon Foot Print” (o impacto que o produto tem no clima do planeta através de emissões de gases de efeito estufa durante seu ciclo de vida). O conceito já foi implementado por um conjunto de empresas importantes como BASF, Tetrapak e Deutsche Telecom. Esse projeto busca responder perguntas como: Qual é a pegada climática de um rolo de papel higiénico? Ou de uma embalagem Tetrapak? Ou de uma xícara de café? E como mensurar essa emissão?

Um bom exemplo de como mapear o impacto climático dos produtos é a análise realizada sobre uma xícara de café. Veja no quadro abaixo que a análise inclui todas as etapas – do plantio à produção – e também as atividades relacionadas ao consumo do produto.



Análise do impacto climático de uma xícara café (realizada pelo projeto PCF, da marca Tchibo, uma das maiores redes de comercialização de café da Alemanha)

Esse método auxilia as empresas a identificar os pontos críticos da cadeia de valor em que ocorrem maiores emissões de CO2 e, com base nessa análise, elaborar estratégias de redução. No caso do café seria, por exemplo, a utilização da matéria-prima orgânica, eliminando o uso de pesticidas e fertilizantes. Esse seria um dos principais pontos críticos da cadeia de valor, como mostra a figura. Surpreendentemente o transporte entre África e Europa e os processos de beneficiamento não são fatores críticos.

Além disso, o mapeamento do impacto climático pode constituir um importante indicador para o consumidor escolher os produtos que deseja comprar e saber como suas ações contribuem para a “pegada climática” do produto, promovendo mudanças no comportamento de consumo.

As ações que as empresas promovem para melhorar sua performance ambiental precisam ser comunicadas aos consumidores. As empresas que associam sua imagem à inovação, sustentabilidade e transparência criam vantagens comparativas nos mercados, tornando-se mais competitivas e valorizadas.

*Christoph Trusen é consultor senior em Gestão Ambiental e Manejo de Recursos Naturais. Doutor em Ciências Agrárias pela Universidade de Goettingen, Alemanha. Lia Krucken é pesquisadora e professora do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral e da Universidade do Estado de Minas Gerais.

Fonte:
Época Negócios

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