No final da década de 20 surgia no centro do Rio de Janeiro o Café Nice, estabelecimento bem ao estilo parisiense (não à toa homenageava no nome uma cidade francesa). A casa, localizada na avenida Rio Branco, número 174, tornou-se símbolo de um período de formação da identidade nacional. Lá, se reuniam escritores, cantores, compositores e intelectuais de um modo geral. Era o ponto de encontro dessas pessoas para trocarem idéias e formarem novas parcerias.
Para celebrar os 80 anos do Café Nice, o Centro Cultural Banco do Brasil apresentou a série musical “No tempo do Nice”, 23 de janeiro a 15 de fevereiro/2009 (sexta a domingo). Quatro espetáculos com canções brasileiras de sucesso e histórias que marcaram o período vivido pelos freqüentadores do café.
O evento contou com a participação do escritor, ator e produtor Haroldo Costa que apresentou os espetáculos. A série, dividida por temas, teve dois cantores por show, como Mariana Baltar e Pedro Amorim, Ana Costa e Pedro Paulo Malta, Nilze Carvalho e Marcos Sacramento e no encerramento Áurea Martins e Moyseis Marques.
Fundado em 18 de agosto de 1928, o Nice – como era conhecido pelos clientes – ficou aberto durante 26 anos ao público. E foi justamente na chamada fase de ouro da MPB (1928/1946) que a casa reinou. Compositores como Ari Barroso, Mario Lago, Cartola e Noel Rosa faziam parte da clientela do café.
Uma curiosidade do Nice: o local foi inaugurado dias depois do surgimento da primeira escola de samba e por suas mesas passaram alguns de seus criadores, entre eles Ismael Silva, Bide e Marçal.
Situado na avenida Rio Branco, nº 174, foi inaugurado em 18 de agosto de 1928, funcionando por mais de duas décadas. O ano de fechamento é divergente, nas fontes pesquisadas, 1954/1956.
Do lado de fora do Café, ficavam, nas calçadas, as mesas e cadeiras de vime. O interior tinha dois ambientes. Um mais requintado, onde se serviam lanches, chás e bebidas finas, e outro onde eram vendidos cafezinhos, a tradicional média pão com manteiga e bebidas mais simples, local preferido pelos artistas. Foi esse lado do Nice que o tornou famoso; espécie de sede da música brasileira. Lá rolavam amizades, encontros, contratos, compra e venda de músicas, imperando a conhecida máxima de Sinhô de que "samba é igual a passarinho, é de quem pegar".
Nestor Holanda, jornalista e assíduo frequentador do Nice, relata que ali se realizava, talvez, o maior mercado de música popular do mundo. As transações se davam a qualquer hora, já que o Nice abria cedo e fechava bem tarde. Segundo ele, o pianista e violonista Augusto Vasseur quando estava sem dinheiro ia para o Nice, levando lápis e papel de música. Logo aparecia quem precisasse de uma partitura escrita, pela qual cobrava dez cruzeiros, por peça. Se fosse orquestração cobrava bem mais caro, cem cruzeiros.
Assim como ele era comum deparar-se, nas mesas do Nice, com músicos como Pixinguinha, Benedito Lacerda, Osvaldo Borba, Guerra Peixe, Raul de Barros transcrevendo melodias para o pentagrama, orquestrando, consultando métricas e melodias. Figura curiosa de gênio analfabeto em música era Lamartine Babo. Afinadíssimo já trazia tudo praticamente pronto na cabeça, mas não sabia colocar no papel, aí a turma do Nice resolvia o impasse.
A malandragem, também, corria solta no Nice. Conta-se que certa vez "o compositor Frazão, que vivia em Paquetá, fez uma melodia na travessia da barca da Cantareira e, chegando ao Rio, foi direto para o Nice e pediu ao primeiro músico que encontrou, para escrevê-la. Boêmio e disperso, saiu, em seguida, para uma pescaria com os amigos, por vários dias". Resultado, quando retornou ouviu sua melodia já gravada, em nome de outro, que comprara do tal músico. Por essas e outras é que alguns frequentadores diziam, "até as paredes do Nice têm ouvidos para roubar idéias"...
Símbolo de uma época de ouro para a Música Popular Brasileira, ponto de encontro de grandes compositores e cantores do Rio de Janeiro, o Café Nice é um capítulo da história da nossa música.
O cantor Gilberto Alves carioca da "GEMA", como ele próprio de dizia, nasceu no bairro de Lins de Vasconcelos no Rio de Janeiro, no ano de 1915. O primeiro grande êxito de Gilberto Alves junto ao público brasileiro foi a música "Tra La La", lançada em 1940. Depois veio em 1941"Uma Grande Dor Não Se Esquece", "Sonhos de Outono"; em 1942, "Algum dia te direi", "Gavião Caçudo" e "Pombo Correio", músicas de grande efeito e enorme vendagem de discos. Gilberto conheceu Jacó do Bandolim, então garoto, que viria a ser seu grande amigo, e depois dos 16-17 anos começou a freqüentar os cabarés da Lapa e o Café Nice, travando conhecimento com Grande Otelo e Sílvio Caldas.
Memórias do Café Nice
EDUARDO CANTO
Composição: Geraldo Nunes/Artúlio Reis/Monalisa
Ah! Que saudade me dá
Ah! Que saudade me dá
Do bate papo
Do disse-me-disse
Lá do Café Nice
Ah! Que saudade me dá
De cadilac chegava o Chico Alves
Logo no samba queria entrar
E Ismael só na de pão com manteiga
Até esquecia a nega pra poder ficar
E o samba varava a madrugada
O Café Nice era um pedaço do céu
Num canto batucava João de Barro
Lamartine, Pixinguinha,
Almirante e Noel
Ah! Que saudade me dá...
Caymmi sem barriga e sem madeixas
Mostrava a Carmem o que é que a baiana tem
Ary Barroso no piano reclamava
Que Donga fez um samba que não é de ninguém
E o samba varava a madrugada
O Café Nice amanhecia em festa
Cartola afina a viola
Que pena que agora só a saudade é que resta
Ah! Que saudade me dá...
Fontes pesquisadas: Almanaque do Samba, de André Diniz
Os grandes sambas da História, fascículos da Ed. Globo.
Vale a pena conferir este blog À Sombra do Café Nice, por Luciano Garcez. O nome do blog tem sua inspiração na música: "À Sombra do Café Nice" canção composta por Luciano Garcez em homenagem ao célebre “Café” do Rio de Janeiro, onde se encontravam grandes compositores e cantores da década de 30 como Francisco Alves, João de Barro, Noel Rosa, Ary Barroso e outros mais.
À SOMBRA DO CAFÉ NICE
(Luciano Garcez)
Rio
beira mar
eu vejo as noites e os faróis
procuro em tua tradição
o som so que é samba e luzir
por que se quer que um samba comente
que a face é difícil
que a chama se apaga
que o verso que a prosa
que tudo intercala-se
tempo e memória
num só tamborim
nas mãos de Ismael
o belo e o triste e a nossa versão
do tal lirismo brasileiro
À sombra do Café Nice
dançamos embriagados
partimos levando o dia em que o bumbo bateu
e na calçada em que piso
ou no momento em que dizes
cantamos o mesmo e a esmo uma rosa se dá.
neste teu sambar
não interessa a avenida
que em tudo há mais que a própria vida
que em nada menos, morte alguma
irá fazer com que se ausente
a lua pastora
o certo brocado
o ponto de vista
de um mero passante
passista farsante
num lúcido som
teu bloco sutil
me ensina o que diz e não diz teu amor
sagrado em sábado
Janeiro
FONTE
http://www.malaguetanews.com.br/pimentas/cafe-nice-vira-espetaculo-musical
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/2189391:BlogPost:39489
http://sombradocafenice.blogspot.com.br/search?updated-min=2007-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2008-01-01T00:00:00-08:00&max-results=2
(IMAGEM)
http://cifrantiga6.blogspot.com.br/2006/05/1928.html
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/centenario-de-roberto-martins
http://mariolopomo.zip.net/arch2007-12-16_2007-12-22.html
Inauguraração na Avenida Rio Branco (Rio de Janeiro) do famoso Café Nice -
18/8/1928.
"Nice dos poetas e dos cantores
Dos boêmios e dos compositores
Que falta você nos faz.
Hoje a turma chora de saudade
Ao ver sua portas fechadas
Que não se abrirão nunca mais."
("Café Nice", de Otolindo Lopes) -
"Nice dos poetas e dos cantores
Dos boêmios e dos compositores
Que falta você nos faz.
Hoje a turma chora de saudade
Ao ver sua portas fechadas
Que não se abrirão nunca mais."
("Café Nice", de Otolindo Lopes) -
Em 1954, Otolindo fez sucesso com o samba "Café Nice", com Arnô Provenzano, uma referência ao famoso café que existiu na Cinelândia e que abrigava compositores e cantores, e que foi gravado por Risadinha (Francisco Ferraz Neto), um de seus mais constantes intérpretes.
Para celebrar os 80 anos do Café Nice, o Centro Cultural Banco do Brasil apresentou a série musical “No tempo do Nice”, 23 de janeiro a 15 de fevereiro/2009 (sexta a domingo). Quatro espetáculos com canções brasileiras de sucesso e histórias que marcaram o período vivido pelos freqüentadores do café.
O evento contou com a participação do escritor, ator e produtor Haroldo Costa que apresentou os espetáculos. A série, dividida por temas, teve dois cantores por show, como Mariana Baltar e Pedro Amorim, Ana Costa e Pedro Paulo Malta, Nilze Carvalho e Marcos Sacramento e no encerramento Áurea Martins e Moyseis Marques.
Fundado em 18 de agosto de 1928, o Nice – como era conhecido pelos clientes – ficou aberto durante 26 anos ao público. E foi justamente na chamada fase de ouro da MPB (1928/1946) que a casa reinou. Compositores como Ari Barroso, Mario Lago, Cartola e Noel Rosa faziam parte da clientela do café.
Uma curiosidade do Nice: o local foi inaugurado dias depois do surgimento da primeira escola de samba e por suas mesas passaram alguns de seus criadores, entre eles Ismael Silva, Bide e Marçal.
Situado na avenida Rio Branco, nº 174, foi inaugurado em 18 de agosto de 1928, funcionando por mais de duas décadas. O ano de fechamento é divergente, nas fontes pesquisadas, 1954/1956.
Do lado de fora do Café, ficavam, nas calçadas, as mesas e cadeiras de vime. O interior tinha dois ambientes. Um mais requintado, onde se serviam lanches, chás e bebidas finas, e outro onde eram vendidos cafezinhos, a tradicional média pão com manteiga e bebidas mais simples, local preferido pelos artistas. Foi esse lado do Nice que o tornou famoso; espécie de sede da música brasileira. Lá rolavam amizades, encontros, contratos, compra e venda de músicas, imperando a conhecida máxima de Sinhô de que "samba é igual a passarinho, é de quem pegar".
Nestor Holanda, jornalista e assíduo frequentador do Nice, relata que ali se realizava, talvez, o maior mercado de música popular do mundo. As transações se davam a qualquer hora, já que o Nice abria cedo e fechava bem tarde. Segundo ele, o pianista e violonista Augusto Vasseur quando estava sem dinheiro ia para o Nice, levando lápis e papel de música. Logo aparecia quem precisasse de uma partitura escrita, pela qual cobrava dez cruzeiros, por peça. Se fosse orquestração cobrava bem mais caro, cem cruzeiros.
Assim como ele era comum deparar-se, nas mesas do Nice, com músicos como Pixinguinha, Benedito Lacerda, Osvaldo Borba, Guerra Peixe, Raul de Barros transcrevendo melodias para o pentagrama, orquestrando, consultando métricas e melodias. Figura curiosa de gênio analfabeto em música era Lamartine Babo. Afinadíssimo já trazia tudo praticamente pronto na cabeça, mas não sabia colocar no papel, aí a turma do Nice resolvia o impasse.
A malandragem, também, corria solta no Nice. Conta-se que certa vez "o compositor Frazão, que vivia em Paquetá, fez uma melodia na travessia da barca da Cantareira e, chegando ao Rio, foi direto para o Nice e pediu ao primeiro músico que encontrou, para escrevê-la. Boêmio e disperso, saiu, em seguida, para uma pescaria com os amigos, por vários dias". Resultado, quando retornou ouviu sua melodia já gravada, em nome de outro, que comprara do tal músico. Por essas e outras é que alguns frequentadores diziam, "até as paredes do Nice têm ouvidos para roubar idéias"...
Símbolo de uma época de ouro para a Música Popular Brasileira, ponto de encontro de grandes compositores e cantores do Rio de Janeiro, o Café Nice é um capítulo da história da nossa música.
O cantor Gilberto Alves carioca da "GEMA", como ele próprio de dizia, nasceu no bairro de Lins de Vasconcelos no Rio de Janeiro, no ano de 1915. O primeiro grande êxito de Gilberto Alves junto ao público brasileiro foi a música "Tra La La", lançada em 1940. Depois veio em 1941"Uma Grande Dor Não Se Esquece", "Sonhos de Outono"; em 1942, "Algum dia te direi", "Gavião Caçudo" e "Pombo Correio", músicas de grande efeito e enorme vendagem de discos. Gilberto conheceu Jacó do Bandolim, então garoto, que viria a ser seu grande amigo, e depois dos 16-17 anos começou a freqüentar os cabarés da Lapa e o Café Nice, travando conhecimento com Grande Otelo e Sílvio Caldas.
Memórias do Café Nice
EDUARDO CANTO
Composição: Geraldo Nunes/Artúlio Reis/Monalisa
Ah! Que saudade me dá
Ah! Que saudade me dá
Do bate papo
Do disse-me-disse
Lá do Café Nice
Ah! Que saudade me dá
De cadilac chegava o Chico Alves
Logo no samba queria entrar
E Ismael só na de pão com manteiga
Até esquecia a nega pra poder ficar
E o samba varava a madrugada
O Café Nice era um pedaço do céu
Num canto batucava João de Barro
Lamartine, Pixinguinha,
Almirante e Noel
Ah! Que saudade me dá...
Caymmi sem barriga e sem madeixas
Mostrava a Carmem o que é que a baiana tem
Ary Barroso no piano reclamava
Que Donga fez um samba que não é de ninguém
E o samba varava a madrugada
O Café Nice amanhecia em festa
Cartola afina a viola
Que pena que agora só a saudade é que resta
Ah! Que saudade me dá...
Fontes pesquisadas: Almanaque do Samba, de André Diniz
Os grandes sambas da História, fascículos da Ed. Globo.
Vale a pena conferir este blog À Sombra do Café Nice, por Luciano Garcez. O nome do blog tem sua inspiração na música: "À Sombra do Café Nice" canção composta por Luciano Garcez em homenagem ao célebre “Café” do Rio de Janeiro, onde se encontravam grandes compositores e cantores da década de 30 como Francisco Alves, João de Barro, Noel Rosa, Ary Barroso e outros mais.
À SOMBRA DO CAFÉ NICE
(Luciano Garcez)
Rio
beira mar
eu vejo as noites e os faróis
procuro em tua tradição
o som so que é samba e luzir
por que se quer que um samba comente
que a face é difícil
que a chama se apaga
que o verso que a prosa
que tudo intercala-se
tempo e memória
num só tamborim
nas mãos de Ismael
o belo e o triste e a nossa versão
do tal lirismo brasileiro
À sombra do Café Nice
dançamos embriagados
partimos levando o dia em que o bumbo bateu
e na calçada em que piso
ou no momento em que dizes
cantamos o mesmo e a esmo uma rosa se dá.
neste teu sambar
não interessa a avenida
que em tudo há mais que a própria vida
que em nada menos, morte alguma
irá fazer com que se ausente
a lua pastora
o certo brocado
o ponto de vista
de um mero passante
passista farsante
num lúcido som
teu bloco sutil
me ensina o que diz e não diz teu amor
sagrado em sábado
Janeiro
FONTE
http://www.malaguetanews.com.br/pimentas/cafe-nice-vira-espetaculo-musical
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/2189391:BlogPost:39489
http://sombradocafenice.blogspot.com.br/search?updated-min=2007-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2008-01-01T00:00:00-08:00&max-results=2
(IMAGEM)
http://cifrantiga6.blogspot.com.br/2006/05/1928.html
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/centenario-de-roberto-martins
http://mariolopomo.zip.net/arch2007-12-16_2007-12-22.html
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