Algumas pesquisas me fazem pensar: "Ou eu tomo muito café ou são os outros que tomam pouco café!!!"
O interessante é que os brasileiros estão consumindo mais café. Isso mesmo, segundo informações da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), o consumo per capita de café torrado no país atingiu a marca histórica de 4,81 kg por habitante, o equivalente a 81 litros de café, no ano de 2010. O recorde anterior era de 4,72 kg e foi registrado há 45 anos!
Desta forma, o consumo brasileiro se aproxima ao da Alemanha, que é de 5,86 kg por habitante/ano e já supera os índices da Itália e França, outros grandes consumidores de café. Os campeões de consumo, entretanto, ainda são os países nórdicos – Finlândia, Noruega, Dinamarca – com um volume próximo dos 13 kg por pessoa/ano.
Quem pensa que cerveja é a bebida favorita do alemão está enganado. No país da cerveja, o café é a paixão nacional. E para a minha surpresa, as chamadas "nações do café", como a Itália e a França, não são as que mais consomem café na Europa. Das 2.290 toneladas de café cru (o grão antes de ser torrado e moído) importado anualmente pela União Europeia, a maior parte do produto é consumido nos países escandinavos.
O país que aparece no topo da lista de consumo por habitante é a Finlândia: 12,7 kg de café por ano. Mesmo diferenciando-se o consumo per capita e o consumo total, os grãos crus e os preparados solúveis, os alemães fazem bonito em todas as listas: ficam em segundo lugar no ranking de importadores de grãos crus, sua fatia no mercado mundial de importação de café é de 8% e o consumo per capita anual fica em torno de 7 a 8 kg. Isto significa que o alemão bebe em média quatro xícaras de café por dia, o equivalente a 160 litros por ano. Essa quantidade impressionante não se faz somente de xicrinhas de expresso, é claro.
O café coado, usando filtro de papel ou prensa-francesa, ainda é o líder nas cozinhas, mas aqui também se consome bastante o café solúvel granulado e o capuccino em pó. Além das cafeteiras italianas (mokas) e máquinas de expresso domésticas, cujo consumo duplica a cada ano, as máquinas monodose com pads e cápsulas estão se tornando cada vez mais populares.
O hábito de se tomar café em Berlim data do século XVII. Já em 1675, bebia-se café na corte do príncipe-eleito de Brandemburgo. Mas naquela época, somente os ricos podiam se dar ao luxo da "bebida turca", como era apelidado. Com a popularização do café na metade do século XIX, em 1900 já havia cerca de cem casas de torrefação na cidade de Berlim. Em 1908, na cidade de Dresden, a alemã Melitta Bentz inventou o filtro de papel que até hoje é consumido mundialmente.
Nos últimos anos, muitas casas tradicionais de Berlim - os cafés de salão e de calçada como o antigo Café Möhring em Charlottenburg - fecharam as portas, mas a cultura do café se renova e o consumo não diminui. Pelo contrário, 86% dos alemães adultos bebem café diariamente.
Há cerca de 800 cafeterias em Berlim, de filiais de rede até as tradicionais ou pequenas que muitas vezes torram o próprio café, criam blends exclusivos e os vendem como especialidades, caso da Barcomi's em Kreuzberg, criada em 1994. Leonardo Lacca, cineasta e dono do café Castigliani em Recife, esteve em Berlim e se impressionou com a cultura do café na cidade: "Em Berlim encontrei cafeterias que juntam o rigor obsessivo do alemão pelo espresso perfeito e o lado hippie do berlinense, sem frescura, cafés que eu queria ter." Ele faz questão da grafia à italiana e indica três locais para se provar um espresso perfeito: CK, em Kreuzberg, Syndicato, em Mitte e GodShot, em Prenzlauer Berg.
Um especialista do café tem por obrigação conhecer todas as etapas do grão, do cultivo aos processos de torrefação e moagem até se alcançar a "xícara perfeita". Um dos papas do café em Berlim, fundador do legendário Café Einstein, hoje segue carreira solo torrando e distribuindo um café de primeira: Wilhelm Andraschko, do Andraschko Kaffeemanufaktur, diz que o que distingue um bom café é o sabor e que esse depende do trato durante o cultivo, da colheita e, é claro, da torrefação. Um bom expresso por exemplo, gosta de doçura, e isso é controlado na colheita, retirando apenas os grãos bem maduros. E deve ser apenas grãos do tipo arábica, nada de misturar robusta, diz ele.
Os tradicionalistas do café, como Andraschko, não concebem como a nova geração de coffe shops é capaz de misturar a um bom café ingredientes tipo xaropes de caramelo e chocolate, como acontece nas receitas das redes como a Starbucks, que chegou a Berlim em 2006. Mas fato é que essas redes têm na mira justamente o público jovem que costuma frequentar cafés com ambientes agradáveis e com acesso à internet, e não se importa de ter a bebida servida em copos descartáveis.
No campo das redes, o Café Einstein é pioneiro em Berlim. No seu livro berlinense "O verde violentou o muro", Ignacio de Loyola Brandão está sempre citando o local, point absoluto nos anos 1980. O primeiro dos Einstein aberto na cidade logo ficou popular, mas sem perder a tradição. Todas as filiais têm ambiente especial e isto garante a qualidade da clientela, sobretudo formada por intelectuais, curiosos e personalidades da mídia, cinema e literatura.
Na verdade, o Einstein em Charlottenburg é mais que um café, é um restaurante tradicional de comida alemã, que também oferece uma grande variedade de tortas deliciosas. Já o Einstein que se encontra em Mitte, tem uma proposta de café-galeria: lá se come ou bebe café admirando fotos de Helmut Newton, dentre outros trabalhos expostos.
Locais como o Café Einstein e outros costumam lotar à tarde, na hora do Kaffee und Kuchen (café e bolo), um ponto alto do dia dos alemães. Quando se visita alguém, ou se encontra alguém durante a tarde, o café com bolo não pode faltar.
FONTE
http://www.sindicafesp.com.br/noticias/nota_alemanha_291111.html
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