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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Descubra as delícias por trás do café colonial

Os pães e embutidos alemães se misturam aos doces e frutas tropicais para compor uma mesa farta
Foto: Bruno Carvalho

Minha irmã mora na Alemanha desde 1996 então mandei esta reportagem p'ra ela com o seguinte recadinho: "Rosy faz o café da tarde que eu tô indo" rsrsrsrs...

O café colonial foi uma invenção dos colonos alemães em terras brasileiras, resultado da fartura de açúcar e frutas no novo país - Da cana-de-açúcar, fez-se o melado. Ao fervê-lo com abóbora, fez-se uma pasta densa, perfumada e de gosto suave, a schmier (diz-se chimia), saboreada sobre uma fatia de pão. Banana, goiaba, abacaxi, pêssego e mamão viram doces tal e qual.

A arte de recriar e adaptar receitas aos alimentos disponíveis, em especial, quando se falava em doces, foi um dos costumes trazidos pelos colonos alemães, ávidos por uma vida nova no Brasil. "Eles se adaptavam ao novo ecossistema, usando as frutas, a farinha e os tubérculos que encontravam", diz Silvana Graudenz Müller, professora de Alimentação e Cultura do Instituto Federal, em Florianópolis.

Foram quase quatro décadas de imigração, iniciada 180 anos atrás, nas regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo. Hoje, tem-se como herança a influência germânica sobre a cozinha brasileira. "Sua contribuição passa por conservas, embutidos e defumados e desemboca na produção caseira de derivados do leite, frutas secas e em compotas e outras doçuras", descreve Lissi Bender Azambuja, doutoranda em Antropologia Cultural em Tübingen, na Alemanha. Termos como kucken (que significa bolo e é chamado de cuca no Brasil), strudel (tipo de folheado com recheio de fruta), kässchmier (queijo cremoso) e eierschmier (doce de ovos com leite, farinha e açúcar) ganharam espaço nas falas e mesas do Sul e Sudeste do país.

Chimia geral

Raro na Alemanha, o açúcar brasileiro permitiu às humildes famílias germânicas o acesso a numerosos doces. "O açúcar era símbolo de riqueza por lá até o fim do século 18", diz Lissi Bender. Por isso, adoçavam- se quitutes com frutas e mel. "Isso explica por que os bolos são muito menos doces na Alemanha que no Brasil", afirma o alemão Sylk Schneider, especialista em Estudos Regionais da América Latina.

Mas havia mel em abundância para os imigrantes. Em Blumenau, uma das cidades mais germânicas de Santa Catarina, a confeiteira Fabrícia Schmidt faz até hoje o lebkuchen (pão de mel com guarnições, como amêndoas e nozes) com base em uma receita de 1935. Vendidas pela internet, suas guloseimas vão para o Japão, a África e até a Alemanha, onde pouco se vê algo tão tradicional.

Milagre da multiplicação

Na culinária de origem alemã, tudo se transforma. Assim como a Floresta Negra - feita com cereja fresca, mas que leva a fruta em conserva por aqui - outras iguarias receberam variações. "A Alemanha é um dos países que fazem de poucas matérias-primas a maior variedade de pratos porque foi um país pobre por séculos, subjugado a reinados e fronteiras políticas”, diz Sylk Schneider. Por isso, entre alemães e descendentes, diz-se que “a necessidade é a mãe da invenção" - uma das frases de efeito bordadas em tecidos expostos nas cozinhas dos colonos, às vezes em português, às vezes em alemão.

De um passado germânico também submetido a invernos rigorosos, criaram-se ainda estratégias para que os alimentos perdurassem. Reflexo disso é o ato de congelar frutas e fazer compotas, usadas em receitas de tortas e bolos. "Em Santa Cruz do Sul, congelamos uvas para usar na entressafra", diz Lissi Bender. Aspectos como esse explicam o porquê de uma mesa de café tão colorida e aromática. A fartura simboliza o fim de um sofrimento. E reunir-se à mesa de café era um meio de os colonos compartilharem o maior bem do qual dispunham.

LIVROS
Saga – Retrato das Colônias Alemãs no Brasil, Ricardo Teles e Sinval Medina
Terra Virgem Forno e Fogão para Dias Festivos, Lissi Bender Azambuja

FONTE

MDEMULHER

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