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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Café com Sal

Tendência oriental ainda encontra resistência no ocidente, mas é uma aposta recente em busca de diferentes experiências
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A busca pela potencialização do sabor do café deu corpo à moda do café salgado em taiwan. no ocidente, esse tipo de combinação pode fazer muita gente torcer o nariz, mas é uma aposta recente em busca de diferentes experiências.
Hoje, toda vez que bebo o café salgado, eu penso na minha infância, na minha cidade natal. A frase, do conto Café Salgado, da escritora Shimada Coelho (www.shimadacoelho.blogspot. com), mostra algo que, à primeira vista, parece inusitado. Um café temperado com sal? No mundo, o café é conhecido por ser degustado puro ou com açúcar – ou adoçante, para quem quer uma bebida com menos calorias.
E seus acompanhamentos seguem a mesma linha: petits-fours, bolachas, chocolates. Tudo liga a bebida a toques mais doces, característica do paladar ocidental quando o assunto é café.
 
No entanto, em alguns lugares parece que a bebida do conto de Shimada ganhou adeptos. Em Taiwan, conhecida por uma gastronomia um tanto quanto exótica – insetos são servidos como petiscos, por exemplo –, tomar café salgado virou moda. A onda surgiu na rede de cafés 85ºC Bakery Cafe, a mais popular da região, que hoje tem o produto como o mais vendido da casa. Para esse povo – que tem o hábito de jogar sal nas frutas para destacar sua doçura e como traço marcante a mistura de sabores –, o novo ingrediente não parece nenhuma grande inovação no Oriente. Segundo os especialistas locais, o segredo do sucesso é a sequência de sabores que a bebida proporciona.
O sal aflora os sentidos e em seguida as papilas gustativas sentem o gosto adocicado do café.
Marcia Yoko Shimosaka, degustadora de cafés da AMSH Consultoria, esteve em Taiwan e conheceu o novo produto. Segundo ela, a ideia foi bastante divulgada pelo mundo, mas o próprio taiwanês não conhecia a nova combinação. No entanto, acha difícil que isso seja bem-aceito em outros países. Márcia teve oportunidade de provar o café salgado e conta que a sensação não foi muito agradável. “A mistura é exótica, o gosto é inexplicável. Mas não consegui dar dois goles na bebida. O cheiro do sal marinho se sobrepõe ao aroma do café.” O sal é acrescentado ao café em forma de creme, semelhante ao leite vaporizado.
“Não acredito que essa prática obtenha sucesso em outros países.” A opinião é compartilhada pela barista Isabela Raposeiras. “Acho que as pessoas vão poder entender que o café é um produto mais abrangente do que se acredita, mas ainda aposto que a cultura brasileira de café com bolo de fubá, por exemplo, será sempre mais forte. Acredito que a bebida combinada com temperos e sal, ainda por algum tempo, será uma ousadia de pessoas ligadas à gastronomia contemporânea e baristas com uma formação técnica mais profunda.”
A não ser que seja um caldo ou uma receita de comida com café, Isabela não acha que adoçar a bebida com sal seja uma combinação bem-sucedida. “Assim como também não gosto do resultado sensorial do café adoçado com o próprio açúcar. As situações felizes sensorialmente são harmonizações de café com comidas salgadas ou uso da bebida como ingrediente em receitas nas quais pode ser o fator principal ou um dos temperos que as compõem.”
MAS, POR QUE NÃO?
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Um café normalmente pede um acompanhamento. No Brasil, se você vai a uma cafeteria, não espere que lhe sirvam a bebida com um pequeno salgado. Por uma questão cultural o café vem acompanhado de minibolo, petitfour, bolachinha ou até mesmo chocolate. Mas segundo Isabela Raposeiras, o ator coadjuvante poderia ser sim um salgado. “Infelizmente hoje no Brasil é difícil alguém servir café com acompanhamentos salgados. Sempre defendi essa combinação pelo efeito que eles causam na percepção da doçura natural do café. Hoje em dia, as pessoas comem algo doce antes ou durante o café, e, consequentemente, essa percepção fica rebaixada. Se o acompanhamento for levemente salgado, a doçura do café fica relativamente maior.”
Abraçar o paladar adocicado, no caso do café, é algo fortemente visto no Brasil e também lá fora. “Os doces e a pâtisserie ainda continuam mais fortes na combinação com café”, explica
Isabela. Segundo a especialista, tudo é uma questão de harmonização. “O grande segredo é combinar um determinado café com algumas comidas, como se faz com vinhos. Isso inclui grãos diferentes, métodos de preparo, tipos de torra, entre outros. Da mesma forma que fazemos com qualquer comida e bebida, podemos harmonizar café por semelhança ou contraste, dependendo do resultado sensorial que se queira obter.”
Um dos grandes “companheiros” de um bom café, na visão da barista, é o queijo, além de carnes em geral. Uma experiência muito interessante é a de um espresso acompanhado de um pequeno pedaço de mussarela de búfala, por exemplo. Mas Isabela prefere usar o café como ingrediente na gastronomia: “Gosto muito também dos peixes mais gordos em algumas combinações com café. Se bem montada, essa harmonização pode ser muito feliz. A maneira mais fácil de não errar nas misturas é usar lácteos. Eles equilibram algumas tendências agressivas de determinadas combinações. Gosto mais de me aventurar em áreas menos óbvias, por isso uso o café na gastronomia como ingrediente. Ele é mais rico se usado em pratos salgados como parte dele do que se tentarmos apenas uma harmonização”.
Mas por que não experimentar uma combinação diferente? Tudo bem, o café com sal de Taiwan pode ser algo muito exótico, mas por curiosidade experimente a sugestão de Isabela em casa: “Nada mais maravilhoso do que um encorpado, doce e aromático espresso acompanhado por uma bela lasca de queijo Grana Padano.” Chame os amigos e faça um convite aos novos sabores!
 
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