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domingo, 14 de outubro de 2012

Café: Memória Afetiva


Prefiro o meu café feito no coador de papel, cafeteira, máquina de café, mas acredito que a forma de fazer o nosso café "sabor reconfortante", aquele café de quando se chega em casa depois de ficar o dia todo fora trabalhando, viajando ou mesmo enfrentando situações divertidas ou complicadas... envolve toda uma bagagem de arte e emoção.

'Sei que passar um café usando coador de pano não tem mistério algum, mas era algo inédito para mim e mesmo o óbvio costuma ter sutilezas que podem fazer diferença. Concluído o processo, eu que já bebi incontáveis litros de café ao longo da vida, saboreei aquele com direito à emoção de primeira vez. Há anos eu não bebia um café tão gostoso. Não, não foi porque eu fiz. Foi por aquilo que ele me fez... acessar.(...) A memória afetiva é um poema de amor que realça o sabor de tudo.

A vida pode ficar muito pequena quando olhamos para ela com o olhar estreito. O tédio acontece quando nos afastamos da capacidade de nos encantarmos com as coisas mais simples do mundo. De nos abrirmos às novidades. De inventarmos moda. De fazermos diferente. De aprontarmos artes capazes de deixar o coração respirar macio no meio de tanta aspereza. O tédio acontece quando nos afastamos da capacidade de buscar a ludicidade possível nos detalhes que nos acostumamos a chamar de banais. De nos desprogramarmos. De nos livrarmos um pouco dos nossos roteiros para ousar alguns improvisos.

Quando eu comentei com algumas pessoas a minha experiência com o coador de pano, houve gente que não entendeu nada: “Você está maluca? Esse troço dá muito trabalho!” Não sentiram a poesia. O simbolismo. A metáfora. Não perceberam que o que dá trabalho mesmo é viver sempre do mesmo jeitinho. Pois eu quero mais dessa maluquice que me ajuda a reinventar maneiras de estar aqui. Porque para se estar aqui com um pouco que seja de conforto na alma há que se ter riso. Há que se ter fé. Há que se ter a poesia dos afetos. Há que se ter um olhar viçoso. E muita criatividade.'

Ana Jácomo
 
Ana Cláudia Saldanha Jácomo (1966) é carioca, formada em Jornalismo, funcionária pública, e absolutamente enamorada, desde criança, pelo exercício de escrever. O estilo predominante em seus textos é a prosa poética, a exemplo de “Almas Perfumadas”, que publicou, ainda inédito na internet, no Releituras, quando o site estava inaugurando o espaço para novos escritores. Na década de 90, participou com contos e crônicas das antologias "Hoje", "Agora" e "Já", resultantes do trabalho da Oficina Literária do poeta Cairo Trindade, a qual freqüentou por cerca de um ano. Em 2001, lançou um livro independente intitulado “Parto de Mim”, impresso na Fábrica de Livros da SENAI, com duas tiragens já esgotadas. Apaixonada por música, desde sempre, no finalzinho de 2006 começou também a percorrer o caminho da composição musical. Gosta de dizer que escrever é o seu trabalho mais lúdico. Seu jeito preferido de prece. Sua maneira predileta de levar o coração para pegar sol.

Um comentário:

  1. Realmente, o café quando passado na "meia" tem mais sabor, mais corpo. Não sou um sommelier do café ainda, mas pelo menos isso, já percebi. Bom post.

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