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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Legítimo Café Brasileiro: Tradição no Café Paulista, em Tóquio


Que tal um cafezinho brasileiro em Tóquio com sabor de história? Ginza não é só o nome de um bairro. Com uma loja de grife em cada esquina, virou sinônimo de elegância, lugar para ver e ser visto. Para passear por aqui, as japonesas capricham no visual.

Nenhum passeio a Ginza é completo sem uma parada para um cafezinho. Uma tradição que surgiu há exatamente um século, aqui nesta cafeteria, que abriu as portas em 1910. O nome mostra de onde os japoneses importaram este hábito. Até hoje eles servem o legítimo cafezinho brasileiro.

Para o cafezinho chegar até aqui, percorreu um longo caminho, passou por uma história que mistura persistência e acaso. O responsável foi Ryo Mizuno, o mesmo homem que organizou a viagem do Kasato Maru, o navio que levou o primeiro grupo de japoneses para o Brasil.

Fazer essas viagens era caro e a empresa dele quase faliu. São Paulo precisava dos japoneses e o governo do estado resolveu ajudar Mizuno, fornecendo sacas de café de graça por um ano. Ele trouxe os grãos para o Japão e tentou vender aqui. A experiência foi um desastre.

“Ninguém sabia o que era café. Todo mundo achou o líquido muito negro, muito amargo”, conta”, conta Taizo Hasegawa.

Taizo Hasegawa, herdeiro do Café Paulista, conta que Mizuno não desistiu e mandou dois funcionários a Paris, pesquisar como funcionavam as famosas cafeterias da capital francesa. Quando eles voltaram, Mizuno construiu uma cafeteria com jeito parisiense, mas nome brasileiro, uma homenagem a quem o ajudou a descobrir o café. Dessa vez, a moda pegou.

O pé de café — eis a árvore que os imigrantes acreditavam dar frutos de ouro.

Ao saborear o líquido amargo, muitos inquietavam-se: teriam atravessado o oceano para cultivar esse fruto tão amargo?

O café brasileiro já é tão familiar aos japoneses que fica difícil dissociar a palavra “café” da palavra “Brasil”.

O Brasil é o principal produtor de café do mundo, sendo responsável por mais de 30% do café produzido no planeta. Graças à instabilidade do solo brasileiro, fazendo com que haja anos de boa safra e anos em que não há safra alguma, o mercado do café oscila com facilidade no mundo todo.

Atualmente, o Japão é o terceiro maior importador de café no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da Alemanha.

Nos últimos anos, Brasil, Colômbia e Indonésia têm-se destacado como os principais exportadores de café para o Japão, sendo responsáveis por 60% de todo o café consumido no arquipélago (30% do café importado pelo Japão vem do Brasil, que ocupa a posição de liderança).

As primeiras sacas de café que Ryō Mizuno recebeu em forma de doação do governo do Estado de São Paulo chegaram ao Japão em 1912. Não se sabe qual era a proporção entre o café brasileiro e o café de Java; sabe-se somente que, até 1922 (ano em que o café deixou de ser distribuído gratuitamente a Mizuno), o café brasileiro obteve a primazia sobre o café javanês.

Mizuno — que contribuiu significativamente para a vinda do Kasato-maru ao Brasil, abandonando em seguida o seu papel no projeto imigratório — batizou o café oferecido gratuitamente pelo governo estadual de “café subsidiado”.

Utilizando o café que recebia do Brasil, Mizuno fundou o Café Paulista a fim de divulgar o produto e abrir novos mercados até então inexplorados. Foram abertas ao todo 23 filiais (uma delas em Shanghai), começando na região de Ginza. O Café Paulista, já no período Taishō, lançava as bases para a abertura de novos mercados para o café e para o surgimento de novos talentos no ramo oferecendo o “café subsidiado” como um sub-produto da viagem do Kasato-maru e “café barato e comida simples a preços baixos”.


“Artistas, estudantes, escritores, todos que queriam aprender essa coisa ocidental, todos queriam provar o café”, conta Taizo Hasegawa. Durante décadas, o café seguiu sendo o lugar das celebridades. Quando John Lennon e Yoko Ono estavam em Tóquio, não deixavam de dar uma passadinha aqui. De lembrança, ele deixou um prato autografado, que está guardado num cofre.

Hoje Tóquio é uma das cidades com mais cafeterias no mundo. O café é vendido em máquinas automáticas espalhadas pelas ruas. O Japão é o terceiro maior importador de café do planeta e inventou novidades como o café com gelo, que os japoneses adoram beber no verão.

O Café Paulista virou atração turística. Quem passa pelo local quer levar uma lembrança do lugar que conquistou um Beatle e um país inteiro com um gostinho do Brasil.

Tokyo - Ginza (9) - Café Paulista (02-09-2010)


FONTE
G1

100 ANOS DE IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL

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